Os conceitos Moderno e Modernidade encontram-se entre aqueles de caráter maleável e flexível. É claro que, nesta via de leitura, penso com e como Marshall Berman, crítico marxista, que, na sua conhecida obra
Tudo o que é sólido desmancha no ar (São Paulo: Companhia das Letras, 1989), pontua na história ocidental alguns momentos cruciais em que tais designações poderiam ser aplicadas, mesmo que os indivíduos da época em questão sequer pensassem em utilizá-las para si próprios. [...]
*Simone Caputo Gomes - USP
Para discutir os conceitos de “modernidade” e “moderno” no âmbito da literatura, opto por começar a refletir sobre o tempo na arte contemporânea.
A passagem acelerada do tempo transposta para o discurso artístico foi realizada por vários criadores famosos. Cito Andy Warhol, por exemplo, que entre a noite de 24 de julho de 1964 e a madrugada seguinte (perfazendo 8h e 05 minutos) deixou uma câmera estática filmando em branco-e-preto o alto do edifício Empire State e produziu o seu trabalho considerado mais famoso, “Empire”, um dos filmes que compõem a exposição Out of Time, atualmente no MoMA de Nova York. Estes versos de Pessanha poderiam tê-lo inspirado a, segundo suas próprias palavras, “ver o tempo passar”:
“Imagens que passai pela retina
Dos meus olhos, por que não vos fixais?” [...]
(PESSANHA, Camilo. Clepsidra e outros poemas. Porto: Anagrama,
1980. p. 29)
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